Segunda visita ao
Museu Municipal de Caxias do Sul.
Dia ensolarado, os
estudantes do 9º ano estavam eufóricos com seus moletons novos,
recebidos pouco antes de pegarem a van para a visita de estudos ao
museu.
Fotos na entrada,
chegamos antes das 9 horas. Bem recebidos, ouvimos as orientações,
tom de voz baixo, cuidar com o piso de madeira que balança, não
tocar nos objetos, fotos sem flash.
O tema da aula é
fontes históricas, já tínhamos trabalhado em aula, porém não
respondiam as perguntas iniciais. Enfim ao nos depararmos com as
fontes históricas, com esses vestígios que nos ajudam a construir
um novo conhecimento, temos que questioná-la: o que é, pra que
serve, sua origem etc.. O caderno de aula é uma fonte histórica, de
sua análise podemos conhecer várias características do seu dono!
Dois guias
professores Alessandra e Artur, chegaram e dividimos a turma.
Fiquei
com a Alessandra. Subimos uma escadaria de madeira e fomos convidados
a sentar em frente a expositores de vidro com peças de pedra e
argila. Quem eram os primeiro habitantes dessa região? Por que não
se tem história do encontro deles com os imigrantes? Os povos
nativos chegaram há dois mil anos atrás, mas antes dos imigrantes
chegarem já tinham sido expulsos pela monarquia.
Colar de sementes
Povo considerado
inferior, ocupava uma região estratégia, que precisava ser ocupada
e defendida de invasões, dentro da ideologia de branqueamento do
povo brasileiro, que na época ainda era escravagista.
Nessa relação de
dominação perdeu-se a memória do povo nativo, pois a fonte oral
que mantêm viva suas tradições foi excluída através da sua
expulsão ou extermínio. Os vestígios desses nativos são os
instrumentos encontrados na região. Grupo Jê do Sul, tradição
taquara dá o título ao expositor com pontas de pedra, mão de
pilão, adornos, bolas de boleadeiras, lâminas de machado e em
outro expositor, fragmentos de cerâmicas. Do grupo tupiguarani havia
fragmentos de cerâmica de urnas funerárias e um colar feito de
sementes unidos com embira.
Do Porto de Gênova para o Brasil
Ao lado dessa exposição já nos
deparamos com a imigração representada nas malas de madeira com
inscrições do proprietário da mala e do seu destino, observamos de
perto a inscrição Ludovico Sartori, via Rio de Janeiro. A seguir o
quadro medieval representando o país da Cocagna, que iludiu muita
gente na busca de uma terra farta.
Quadro representando a Cocagna
tela de Jorge Leitão
Outra fonte
histórica, o quadro de Jorge Leitão, de 1955. Qual foi a intenção
do artista? Num primeiro momento parece que está tudo certinho. Mas
sob o ponto de vista crítico de agora, vemos que ele mostra uma
realidade idealizada, com apenas uma mulher, em serviço doméstico e
muitos homens trabalhando. Onde estão as crianças trabalhadoras? O
quadro foi pintado em 1955, período em que o trabalho infantil
estava sendo questionado em prol da valorização do ensino. Mas
sabe-se que a mulher trabalhava tanto quanto o homem, além do
serviço doméstico, bem como as crianças, por isso tinham muitos
filhos para por todos na roça.
Vimos muitas
ferramentas, a guia esclarece que o governo disponibilizava as
ferramentas, ração e sementes para as famílias de imigrantes desde
1875, quando iniciou a imigração dos italianos. Questionamos o fato
dos escravos terem sido libertos e abandonados, a abolição
aconteceu nessa época, em 1888, porém os libertos não receberam
terras, nem ração, sementes ou ferramentas para iniciarem uma nova
vida de liberdade, como aconteceu com os imigrantes alemães e
italianos.
Pilão para fazer a farinha
Outros espaços
formam se mostrando, máquinas curiosas feitas de madeira, mão de
pilão para moer os grãos e fazer farinha, que dificuldade, mais
adiante uma máquina movida a água para fazer farinha, grande
avanço! A vida dos primeiros imigrantes foi muito sofrida, mas com o
aumento da produção conseguiram vender o excedente e diversificar
a economia. As videiras vieram mais tarde, bem como a fabricação
do vinho, que foi crescendo aos poucos em parceria com a técnica da
tanoaria dos descendentes de portugueses.
Uma geladeira
antiga, antes da energia elétrica nos mostra a importância da
estrada de ferro que começou a funcionar a partir de 1910. As
famílias de posse podiam comprar o gelo de Porto Alegre, trazido de
trem, blocos de gelo envoltos em serragem para conservar os
alimentos. A energia elétrica só chega por volta de 1913.
Máquina mais moderna para fazer farinha
A tanoaria era tradição portuguesa
A geladeira antes da energia elétrica
,
A seguir vimos
espaços de profissões, marceneiro com muitas ferramentas para
trabalhar a madeira, sapateiro na confecção de calçados de couro e
madeira.
O comércio de secos
e molhados despertou a curiosidade dos estudantes com a
diversificação de produtos vendidos.
Secos e molhados, comércio
O que mais chamou a atenção
foi a profissão do dentista do passado, não tinha estudo para isso,
nem diploma, para mostrar a sua competência o prático, dentista,
exibia um frasco com muitos dentes arrancados, pois nessa época era
usual arrancar dentes que doíam.
Metalúrgica Abramo Eberle
Réplica
A história da
empresa Abramo Eberle, falida, é destaca numa sala com uma grande
pintura de Jorge Leitão, também dos anos 50. Por muito tempo
escondeu-se o fato dessa empresa ter iniciado com a mãe de Abramo
Eberle, Luigia Eberle era funileira, fabricava lampiões e
lamparinas, ensinou o ofício ao filho que ampliou o negócio,
tornando-o muito próspero, a ponto de ter sido uma das maiores
metalúrgicas da América Latina. Não encontramos nenhuma referência
à Luigia Eberle nesse espaço, a guia lembrou da posição
subalterna da mulher, num mundo em que os homens comandavam. Bem
mais tarde Gigia Bandera, como conhecida foi reconhecida pelo
empreendedorismo e pioneira na industria da região.
Tarquínio Zambelli
Outro destaque foi a
obra do escultor italiano Tarquinio Zambelli representando a recém
República do Brasil entregando louros aos imigrantes que chegavam
nessa terra, representado por uma criança, com o leão,símbolo da
cidade.
Santa Terezinha com olhos de vidros vindos da Europa
O espaço de lazer mostra brinquedos, gramofones, instrumentos musicais, harmônio, máquina fotográfica, tvs e rádios. A relação de lazer entre as pessoas mudou muito, naquela época era mais coletivo, as pessoas se reuniam para ouvir rádio novela e para assistir tv.
E a aula chega ao fim. Reforçamos o que é fontes históricas sob um novo olhar, conhecendo um pouco sobre as origens de nossa cidade. Agradeço ao empenho de todo o pessoal do museu.
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